31 de agosto de 2008

as férias chegam ao fim


Terminam as férias.
O Alcácer do Sol retoma naturalmente a sua actividade.
Neste regresso vamos falar de algumas questões relativas ao período estival. Vejamos uma perspectiva pessoal deste período, centrada em questões globais.

Retomaremos as questões locais logo a seguir!


No último dia de Julho, Cavaco Silva fez uma comunicação ao país. Começou com um mistério - o tema da conversa. Este tabu, que durou um dia, mobilizou os Portugueses. Estes, compreensivelmente preocupados, esperavam (e esperam) por algo que os ajude a superar uma crise longa e angustiante. E pararam para escutar. Poucos perceberam a mensagem. Quem a ouviu, leu e releu continuou sem perceber. Afinal de contas o nosso presidente está preocupado com a sua perda de poderes? É desprestigiante ouvir determinadas entidades públicas antes de tomar uma decisão política? O diálogo e a democracia não são conciliáveis? Continuará o Presidente a pensar que nunca se engana e raramente tem dúvidas? Os factos reais contradizem claramente esta crença...

Porque será que o nosso presidente dá tanto relevo à questão processual dos Açores e mal se pronuncia sobre os verdadeiros problemas dos Portugueses? Nós andamos a lutar contra uma crise que se arrasta desde o início do século. Não se vislumbra uma luz ao fundo do túnel. E isto é secundário em relação ao estatuto dos Açores?

Posteriormente, o Presidente da República decidiu interditar o espaço aéreo no local em que passava férias, no Algarve. Haveria alguma ameaça terrorista? Parece que não. Pelo que pudemos entender, estava em causa o seu conforto pessoal. Perante a lei somos todos iguais e temos todos os mesmos direitos. Mas sempre há uns mais iguais do que outros... por estar em causa, provavelmente, o desenvolvimento de Portugal.

Já na recta final das férias, Cavaco Silva vetou a lei do divórcio. Ele acha mais justo dificultar o divórcio a uma pessoa que seja vítima de violência doméstica e tenha uma relação matrimonial indesejada. E este veto aparece em nome da defesa da vítima!... Tudo isto se enquadra com o pensamento de que o casamento tem, como função principal, a procriação. Enfim...


Agosto manteve a tendência violenta dos últimos tempos. Foram muitos os assaltos, as perseguições, os tiros e as vidas perdidas. O sentimento de insegurança alastrou a todo o país. Na justiça mantém-se a conflitualidade entre vários sectores. Tarda em aparecer uma liderança capaz de controlar a situação, proporcionando um ambiente de estabilidade e cooperação, necessários à resolução dos seus problemas estruturais. A Justiça continua a funcionar muito deficientemente. Com graves prejuízos para Portugal e para os Portugueses.

A segurança é um dos factores básicos para o desenvolvimento do País, promessa tantas vezes repetida e sem resultados à vista. Até quando? Neste cenário, Sócrates tem estado estranhamente silencioso. Ainda em Dezembro andava tão interventivo (lembram-se do show do Tratado de Lisboa?).

O preço do petróleo desceu significativamente nos mercados internacionais. Dos 140 dólares por barril baixou até aos 113 dólares. Uma redução que, na altura, rondou os 18%. Para o consumidor final, o preço também desceu, mas a outro ritmo... muito, muito menor (uma descida de 18% sobre 1,50€ dá qualquer coisa como 27 cêntimos). Porquê? Questões que não merecem a intervenção do Presidente da República nem do Governo... Entretanto, na Madeira, o governo regional decidiu intervir na liberalização do preço dos combustíveis. O que prova que há outras soluções disponíveis. Desde que haja vontade... ou capacidade para enfrentar os interesses instalados na defesa dos interesses nacionais.

Os meteorologistas previram um verão muito quente. O que não se verificou até ao momento. São previsões, como tal passíveis de erro. O mesmo se tem passado com as previsões da inflação. Restou-nos aceitar um verão ameno da mesma forma que somos forçados a aceitar actualizações salariais abaixo da inflação. Já é assim há muitos anos. Com a diferença de que o erro, na inflação, é sempre para o mesmo lado. Estranhas coincidências... Também aqui nos querem convencer de que não há nada a fazer e que nos resta aceitar, obedientemente, este fenómeno repetitivo... é o nosso mercado. O governo Espanhol, perante uma crise assumida, e contra as recomendações do FMI, faz exactamente o contrário... porque há outras soluções, porque há outras formas de estar na vida.

Com um verão ameno, os incêndios foram menos frequentes. Ou será que, nos anos anteriores, já ardeu tudo o que havia para arder? Para quem dirige, o importante é que este é um motivo válido para auto-elogios. Facto importante numa sociedade em que a aparência prevalece sobre a realidade.


Os Jogos Olímpicos de 2008 voltaram a mostrar que o desporto e os atletas são usados, prioritáriamente, para alcançar objectivos políticos. O desporto e as pessoas vêm depois...

A China tem ambições mundiais. Não se coibiu de forjar imagens televisivas, com recurso a técnicas informáticas, na cerimónia de abertura. Houve imagens que foram deliberadamente manipuladas. A voz duma menina chinesa (que preenchia os requisitos sonoros) foi difundida na cerimónia de abertura. Mas a menina cantora foi substituída por outra, porque a sua aparência física não satisfazia os padrões estéticos dos dirigentes chineses. A luta pelas medalhas, com a China e os EUA a degladiarem-se, escondeu muitos outros aspectos dignos de relevo numa competição desportiva. O mundo ocidental, que tanto se horroriza com alguns regimes mundiais não democráticos (Iraque, Afeganistão, Coreia do Norte... só para falar de alguns mais badalados) não teve coragem de abordar claramente a questão dos Direitos Humanos na China, onde são clara e frequentemente violados. Privilegiaram-se as questões económicas em detrimento das pessoas. Uma vez mais...

Na representação Portuguesa o destaque vai para as medalhas conquistadas e para o péssimo trabalho realizado pelos dirigentes, a começar pelo presidente do Comité Olímpico Português. O caricato vai para o facto de um clube Português ter tido mais atletas medalhados do que Portugal...


No Cáucaso, a Geórgia decidiu atacar a Ossétia do Sul e reintegra-la. Acontece que a Ossétia já vivia independente da Geórgia desde o início dos anos 90... Que se terá passado na mente do presidente Georgiano? Os Russos esmagaram-nos com uma incrível facilidade enquanto o esperado apoio dos EUA, da Nato e da UE se ficou pelas palavras. Tudo isto era espectável. Erro de cálculo ou ingenuidade? Não dá para entender. As actuações dos Russos são criticáveis? Claro que sim! Mas quem tem legitimidade para o fazer, depois daquilo que se tem visto no Iraque, no Afeganistão, no Kosovo, no Paquistão, ...? Porque será que os princípios que fundamenaram a independência do Kosovo não se aplicam à Ossétia? A história está para durar. A ganância em dominar o mundo traz custos elevados. Regressam os grandes investimentos mundiais em armamento... Aumenta o risco duma guerra planetária... Não é disto que os Humanos precisam.

Foi divulgado que, no Brasil, nos últimos 4 anos, 10% da população saiu da situação de pobreza e alcançou o patamar da classe média. Uma evolução positiva que merece destaque. Em Portugal a tendência é oposta. A classe média vai diminuindo continuamente enquanto o número de pobres aumenta. Em termos de distribuição de riqueza mantemos uma vergonhosa posição na Europa. O Brasil mostra-nos que afinal é possível fazer diferente, mantendo o crescimento económico. Desde que haja vontade...

Enfim, as férias estão a acabar...

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