4 de março de 2008

navegar à vista

Na Assembleia Municipal da última sexta feira, o Sr. Presidente mostrou-se desconfortável com algumas acusações de que é alvo: a falta de estratégia na condução dos destinos do Concelho. Ou seja, de "navegar à vista", como afirmou.
A provar a falsidade de tais acusações, o Sr. Presidente usou uma folha de papel em que, pelos vistos, estavam listados 11 projectos para Alcácer do Sal. Desses onze leu o título de seis ou sete. Os restantes ficaram guardados no caixote dos tabus.
Não nos conseguimos lembrar de nenhum dos títulos dos projectos mencionados pelo Sr. Presidente.
Mas ficamos a perceber que aquela lista era uma surpresa para muitos dos elementos (todos?) da Assembleia Municipal. Donde concluimos que a folha dos 11 projectos não tinha sido discutida nem analisada em conjunto. O lapso foi atenuado quando mandou tirar uma fotocópia da folha para dar a uma Deputada Municipal.
Achamos tudo isto muito triste.
É pena que Alcácer continue a ser governada desta forma. É pena.
E explicamos porquê.

Se aquela folha de papel era um plano estratégico para o desenvolvimento de Alcácer, vem tarde. Vem muito tarde. Falta pouco mais de um ano para terminar o mandato. Agora é que aparecem projectos em concreto? Que terão andado a fazer nestes dois anos e meio?

Se aquela folha de papel era um plano estratégico para o desenvolvimento de Alcácer, porque não foi discutido abertamente com as pessoas da terra? Será obra de iluminados que não perdem tempo a consultar as pessoas porque têm legitimidade para governar? Será arrogância? Será falta de saber? Será um truque malabarista?

Se aquela folha de papel era um plano estratégico para o desenvolvimento de Alcácer, o que será um verdadeiro plano de desenvolvimento? O Sr. Presidente contou 11 projectos. Quiz mostrar trabalho. Mas estas coisas não se medem pelo número de projectos. Valorizar o número de projectos, e só isso, é um lapso típico de quem não sabe muito bem como as coisas se fazem.
O Sr. Presidente deveria ter começado por explicar qual a sua visão para Alcácer a médio e longo prazo, o que nunca o vimos fazer com qualidade.
Deveria ter claramente explicitado as expectativas para a nossa terra. Limitou-se a falar da próxima edição da Folha de Alcácer...o que revela a sua curta visão.
Deveria ter analisado em concreto a envolvente em que Alcácer se insere. Analisado as condicionantes internas e as condicionantes externas. Analisado os pontos fortes e os pontos fracos, as oportunidades e as ameaças. Deveria ter analisado muito bem a concorrência, nomeadamente de Grândola...
Deveria ter analisado vários cenários.
Deveria ter definido as decisões estratégicas e consequentes planos de acção, com objectivos, metas...
E tudo isto deveria ser feito em diálogo permanente, com a população de Alcácer e as suas instituições.
Mas não vimos nada de isto a ser feito em Alcácer do Sal.
Sabemos que algum deste trabalho foi encomendado a pessoas ou organizações que mal conhecem a nossa terra. E que algum deste trabalho não foi feito para Alcácer do Sal mas sim para o Litoral Alentejano. O que tira detalhe e especificidade indispensáveis numa sociedade cada vez mais competitiva.
E isto não é assunto que se apresente com base numa única folha de papel.
Se há documentação adicional, porque é que não estava disponível?
Na sociedade da informação, no século XXI, ainda andamos a passar fotocópias para partilharmos documentos em plena Assembleia Municipal?
Assim, e de acordo com a promessa do Sr. Presidente, vamos esperar pela próxima Folha de Alcácer para perceber melhor os detalhes de tão auspicioso plano.
E, se é que é verdade que não se tem andado a navegar à vista, o plano a apresentar deverá ser coerente com o discurso recente do executivo.
Por isso, esperamos encontrar:

  • estímulo ao investimento privado na área da noite, da dança, da arqueologia...
  • submissão perante a ausência de investimento público - PIDAC
  • planos de pormenor nºs. 3, 4 e 5 em substituição do PDM
  • promessas não cumpridas
  • aumento de jobs para satisfazer boys
  • feiras, festas e fogo de artifício
  • desportos de ar livre (excluir-se-á o golf?)
  • terminar as investigações da PJ
  • fazer as pazes com o Secretário de Estado Valter Lemos
  • projecto da Feira para o próximo mandato
  • toyotas
  • ...

Isto é se houver coerência com o passado. Mas será possível fazer um plano de desenvolvimento em contradição com tudo aquilo que têm feito até agora?



Por este andar não saimos desta tendência contínua que coloca Alcácer num deplorável estado de estagnação.
Assim não vamos lá.

Alcácer merece mais!

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