15 de novembro de 2009

a farsa do presente posta em cena...

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.


Miguel Torga

1 comentário:

Anónimo disse...

Miguel Torga ainda era humano certamente.

“Já não seremos humanos”

Morreu recentemente com 100 anos Claude Lévi-Strauss, ele que afirmava numa das suas obras "O Pensamento Selvagem" (1962), não haver uma verdadeira diferença entre o pensamento primitivo e o moderno, o que até parece ser verdadeiro embora não possa ser visto de forma linear, pois houve outras formas de pensar noutras tantas civilizações bastante evoluídas que sem se saber bem como entretanto se extinguiram, ou foram sendo extintas.

Se traçarmos a linha recta entre as civilizações primitivas e essas outras civilizações entretanto extintas de forma mais ou menos misteriosa, diríamos que teria havido desenvolvimento tecnológico e evolução na forma de pensar, se outra linha recta fosse traçada desse ponto até às civilizações modernas diríamos que continuou a existir desenvolvimento tecnológico mas que terá havido regressão na forma de pensar.

E é este parêntesis que faltava fazer para validar aquela teoria de CLS, o desenvolvimento tecnológico sempre foi uma constante das nossas sociedades, mas a evolução na forma de pensar sempre foi sendo aniquilada, normalmente pelas tais sociedades mais primitivas, às quais o desenvolvimento tecnológico interessava, mas a evolução na forma de pensar era vista como uma ameaça, daí que tenhamos chegado aos nossos dias no tal ponto em o pensamento moderno converge no pensamento primitivo.

E assim se atingiu esta modernidade tecnológica de pensamento primitivo em que todos observamos o definhar da sociedade e dos seus valores a cada dia, mas em que parece também não haver ninguém com capacidade para inverter este estado de coisas, isto porque a evolução na forma de pensar continua e continuará a ser vista como uma ameaça que importa travar a todo o custo e o desenvolvimento tecnológico parecer não ter fim.

E é aqui neste ponto que temos que procurar o equilíbrio, tentando contrariar os interesses instalados que nos querem primitivos na forma de pensar, mas rodeados da mais bela tecnologia, porque a continuar assim iremos desembocar na sociedade hiper-tecnológica mas em que provavelmente já nem sequer pensamos, em que todos os valores humanos estarão definitivamente perdidos, seremos também nós nessa altura produtos da tecnologia em que nos deixámos afogar, mas seguramente já não seremos humanos.