29 de janeiro de 2009

escutando Fernando Savater

Dizia, no século passado, Fernando Savater:

"Entre a carrada de obscenidades impiedosas e mortíferas de que temos notícia todos os dias, regra geral barradas de altas razões de Estado e sublimes valores eternos, percebemos de vez em quando o gemido crú do absolutamente intolerável, da desolação pura. E estremecemos então até ao mais profundo de nós, agitados por algo que já nem sequer é indignação nem o honrado propósito de mudar o mundo, mas sim o vislumbre demolidor do irreparável, do que nos acompanhará sempre como a sombra de horror que a vida consciente projecta à sua passagem.Porque alguns estragos são tão grandes que geram uma culpa maior que os próprios culpados, uma culpa que nenhum coração humano - por mais feroz que fosse - poderia assumir plenamente ou apenas compreender. Em certas ocasiões o homem não está à altura do mal que faz: algo fatal e cego que o transborda colabora com as suas livres escolhas para conseguir o autenticamente atroz."

Vem isto a propósito dos conturbados tempos que atravessamos.
Infelizmente nem precisamos de recuar muito no tempo para sermos atravessados pela desolação originada pelas ondas de notícias atrozes.

Noticiava ontem o site do PS um elogioso relatório da OCDE sobre a educação em Portugal. O relatório não era da OCDE... Segundo noticia o Público de hoje, o prefácio deste estudo está assinado por um elemento da OCDE. Para mais informações aceda a http://www.profblog.org/2009/01/o-relatrio-dito-da-ocde-foi-encomendado.html

Incomodado com este facto, Sócrates respondeu ontem no parlamento: "Os Senhores não suportam o sucesso do país". Pergunta inevitável: qual sucesso? onde é que ele está?

Sabe-se que Sócrates assinou dezenas de projectos de lindas casas no Município da Guarda. Houve jornalistas que pretendiam investigar com detalhe os projectos em causa. A Câmara da Guarda, socialista, criou os obstáculos necessários para impedir a investigação. Segundo noticia o Público de hoje, o prazo de aprovação dos projectos de Sócrates foram estranhamente rápidos - em 22 projectos analisados, 16 foram aprovados em menos de um mês, dos quais 9 foram aprovados em menos de dez dias e 3 aprovados em menos de três dias. O assunto foi para tribunal e ontem, o Supremo Tribunal de Justiça ordenou à Câmara Municipal da Guarda que facultasse a consulta de todos os processos. Sem hipótese de recurso...

Ontem foram divulgadas as intenções dos investigadores ingleses em aceder aos registos bancários de Sócrates (na sequência das suas análises ao caso do Freeport). Pertencerão os Ingleses ao grupo dos bota-abaixo tão apregoado por Sócrates? Serão os Ingleses estúpidos ou quererão fazer guerra a Portugal? O processo Freeport foi aberto, no nosso país, no ano de 2004. Esteve, até hoje, praticamente parado. Ninguém explica porquê. Ainda segundo o Público de hoje, a última avaliação ambiental do Freeport foi a mais rápida de que se tem registo desde 1995 - 55 dias para uma média de 228 dias. E a decisão foi tomada três dias antes do governo de gestão cessar funções. Por coincidência, no mesmo dia em que foi alterada a Zona de Protecção Especial do estuário do Tejo. Decisões, todas elas no âmbito do Ministério do Ambiente. Ainda segundo o Público, "a aprovação do empreendimento violava a portaria que regulava a construção de novos equipamentos no interior da ZPE", o que foi corrigido através do decreto-lei aprovado por um governo de gestão... Pura coincidência?

Falamos só de alguns casos que foram ontem alvo de destaque nas notícias.

Poderíamos recuar no tempo e o texto tornar-se-ia infindável. Todos nos lembramos de Isaltino Morais, de Fátima Felgueiras, do Casino de Lisboa, da SLN e do BPN, do BCP, do BPP, das offshores, das licenciaturas da Independente, da operação Furacão, e da Portucalle, do Dias Loureiro, do Jorge Coelho, da ... , do ...

O que Fernando Savater escreveu no século passado mantém-se plenamente actual: "em certas ocasiões, o homem não está à altura do mal que faz".

A propósito,

  • porque recusou o PS o projecto anti-corrupção do seu destacado militante João Cravinho?

  • porque se cala a grande maioria da oposição? Terão telhados de vidro? Estarão no mesmo barco? Partilharão o mesmo bolo?

Descubra você a resposta!

1 comentário:

Anónimo disse...

E então os palacetes construídos no Parque Natural da Arrábida,com piscinas e tudo denominadas "depósitos de rega"? A malta já esqueceu? É o que digo, o povo tem memória curta.....