18 de maio de 2010

Quem faz de bailarina?

Aqui há uns anos, o primeiro-ministro da altura - Durão Barroso - recorreu-se da Tanga para descrever Portugal. Pouco tempo depois deixou o cargo e o país. A Tanga abandonou-a cá.

Ontem, dia em que foi promulgado "o casamento entre pessoas do mesmo sexo", o primeiro-ministro José Sócrates referiu-se a Portugal com recurso ao Tango.
E, em Castelhano, lá explicou que o Tango se dança a dois.
acrescentando que só agora tem parceiro...
...que é Pedro Passos Coelho.

Enquanto nós tentamos entender a evolução, a retracção ou a estagnação desde a Tanga até ao Tango,
suportamos a maior carga fiscal de sempre,
aguentamos o maior défice de sempre
e pagamos a despesa feita pelo sector financeiro num dos seus maiores devaneios de sempre.

Mas nem tudo são desgraças...
... deixam-nos sempre espaço para pequenas diversões.
Uma delas é descobrir quem desempenha o papel de bailarina, nesta dança do Tango: Sócrates ou Passos Coelho?

Ou será que isso já não faz sentido, à luz da lei hoje promulgada?

16 comentários:

Anónimo disse...

Cá o Zé dança sempre com a mais feia.

“O último tango”

Lembro-me da excitação que foi, na época, a exibição do filme “O último tango em Paris”, organizavam-se excursões à capital para poder presenciar esse acontecimento raro na altura, sim excursões, porque ainda eram relativamente poucos os automóveis e só para alguns e pasme-se o nosso país possuía apenas quinze quilómetros de auto-estrada, do Fogueteiro a Lisboa, para além da meia dúzia de quilómetros Lisboa-Estádio Nacional, uma das primeiras do mundo, inaugurada em 1944.

País evoluído o nosso na altura com uma das primeiras auto-estradas do mundo e a estreia na capital de um dos primeiros filmes a roçar o erotismo a que o país assistia, naqueles tempos ir do Alentejo à capital era um grande acontecimento para a maior parte das pessoas, uma odisseia realizada poucas vezes na vida e então para assistir a um filme erótico era caso único e acontecimento nacional para quase todos.

O acontecimento era de tal grandeza que uma vez regressados ao Alentejo, nas reuniões da Tupperware e nos chás de caridade o grande tema de discussão girava precisamente à volta das cenas visionadas lá na capital, em particular aquelas mais ousadas e como tal geravam uma discussão mais acesa, enquanto se bebia o tal chá e se comia um pãozinho de trigo, produzido das nossas lindas e imensas searas.

Desde então muito se evoluiu, hoje já todos, ou quase todos possuem automóvel, é um objecto banal, de primeira necessidade até, das imensas searas nem vê-las, mas em contrapartida temos quilómetros de auto-estrada a perder de vista e com interligação à rede europeia, tanto assim que se quisermos será fácil ir comer uma tortilha a Madrid, ou um croissant a Paris, e em breve será muito mais rápido.

Quanto aos filmes que agora se vêem sobre este, ou sobre temas conexos, ainda recentemente assistimos ao da tanga, seria porventura a fêmea do tango, que acabou por desaguar em Bruxelas e temos agora bem fresquinho a saltar o último tango em Madrid, que aprendemos se dança a dois e porventura se dançará de tanga, não por culpa nossa, mas muito por culpa de um qualquer realizador estrangeiro que resolveu cortar-nos no orçamento dos figurinos.

Anónimo disse...

Tango, tanga, meia bola e força.

“A nossa selecção”

É de facto a nossa selecção, e qualquer que fosse a nossa escolha não estaria isenta de polémicas, agora só nos resta esperar que tenham uma boa prestação, até aqui os resultados não têm sido famosos, mas tudo ia sendo mais ou menos disfarçado, ou pelo menos nós íamos acreditando nem que sim, nem que não, antes pelo contrário.

Mas agora com contratação da nova seleccionadora europeia tudo mudou de figura, estão já num estágio em altitude, onde há menos oxigénio, sim que malta que conduz o jogo da forma como tem conduzido até aqui o que merece mesmo é respirar um ar menos rico em oxigénio, a ver se começa a aclarar as ideias.

Está previsto para a próxima semana um jogo de treino com uma selecção de Bruxelas, aquela que é tida no momento como a selecção que mais tem contribuído para o actual estado do campeonato e se o nosso jogo não melhorar a seguir já se antevê um jogo de preparação com os melhores jogadores do FMI, é começar a preparar já as caneleiras meus senhores.

Nós todos como apoiantes e torcedores, ou melhor neste caso como torcidos, pois ao preço a que nos estão a impor os bilhetes para assistir ao jogo, mesmo quando não vamos ao estádio, leva qualquer um de nós a um estado de nervos que o melhor mesmo é irmos lá para aliviar a tensão, chamar nomes feios e atirar um tomates ao seleccionador nacional, pelo menos enquanto tal prática não for taxada em sede de IRS.

Até agora a táctica era uma, contra ataque e fuga para a frente para procurar iludir o adversário e público nas bancadas, mas a chegada desta seleccionadora refreou um pouco os ânimos e a táctica tornou-se um pouco mais lenta, mas com fortes investidas no contra ataque, tendo-se para isso optado pela aquisição de um jogador de peso a uma equipa da oposição.

É de facto uma táctica nova para tempos novos e que se justifica plenamente pois nas últimas três semanas o mundo do futebol mudou muito e não sabemos o quanto ainda irá mudar até ao campeonato, pena é que os sucessivos treinadores não tenham antevisto estas mudanças antes, pois ao invés de estarmos nós agora a ser enrolados pela mudança teríamos certamente tido a possibilidade de a driblar e há muito ter rematado para golo.

Anónimo disse...

Humor negro económico

Qual foi o último desejo da economia da Islândia, antes de morrer?

Que as suas cinzas fossem espalhadas pela Europa...

Anónimo disse...

Quem faz de pistoleiro ?

“Desperados”

Aquela era a rua empoeirada no meio do lugar meio abandonado, onde normalmente decorriam os duelos, uma caveira de equino jazia por terra, não se via vivalma naquele fim de tarde encalorado, não minto, havia dois abutres pousados no alto da torre da igreja, cujos sinos de bronze haviam sido roubados há muito.

Sentia-se no ar, ou melhor sente quem está habituado a estes momentos, aquela poeira quente que dá sinal quando algo está para acontecer, ao longe de nascente vê-se uma nuvem de poeira em crescendo e quase simultaneamente do lado oposto avista-se também uma poeirada imensa e bem definida.

Aproximam-se e param ainda distantes, no topo poente é possível ver surgir Desperado Zé, na sua montada, um belo lusitano puro, no colt à cintura os seus reluzentes magnum 45, coronhas em madrepérola, do outro lado acabara de deter-se Zé Desperado, sua mula bem tratada e à cintura as velhinhas colt 45, coronhas de madeira, herança de um tio, também pistoleiro.

A coisa promete, apeiam-se ambos das suas montadas e caminham em direcção um ao outro, sabem como é, perna arqueada e mãos descaídas um pouco atrás do tronco e ligeiramente abaixo da cintura, mas que cena, deixa-me cá esconder atrás desta pipa velha que aqui está bem perto de mim, não vá vir para aí alguma bala perdida.

A partir desse momento mais nada vi, apenas pude ouvir a voz forte de Desperado Zé, venho buscar o meu imposto especial, com retroactivos, ainda ouvi Zé Desperado com voz trémula, estou de tanga Zé, um curto silêncio seguido daquele ruído rápido, quase instantâneo do sacar das armas e dois fortes estrondos, de magnum não havia engano, os colt não tinham sequer podido falar.

Silêncio absoluto, levantei lentamente a cabeça, ligeiramente acima do tampo do pipo, Zé Desperado jazia por terra, no alto da torre vi quatro olhos que brilhavam e Desperado Zé que caia em si, após aquele momento irreflectido, pois tinha acabado com o Zé Desperado, sem sequer cobrar o imposto e ao mesmo tempo tinha acabado com a própria fonte do rendimento, já nada havia a fazer …, soube anos mais tarde lá na grande cidade que só os abutres se tinham safado.

José Mestre disse...

E porque não pensar em dois bailarinos?

Anónimo disse...

SIM ou NÃO ?

“O referendo”

Tanto ou tão pouco já temos sido bombardeados com estas notícias que já estamos fartos de saber, vamos ter que fazer um sacrifício, para salvar o país dizem-nos, e porque não fazer um referendo em matéria tão sensível e que diz respeito a todos nós, se calhar fazia mais sentido que outros referendos de que para aí se tem falado e mesmo que outros já concretizados.

Os três arautos do sacrifício não nos merecem já grande confiança, digo eu, o ministro da finanças já sabemos anda com uma pressa danada em começar a cobrar o tal de imposto, resultante do sacrifício, não percebemos bem porquê uma vez que também já disse que no final do ano o valor cobrado será sempre o mesmo, então para quê essa fobia desatada.

O outro arauto que antes da crise pouco ou nada piava, o governador do nosso pouco ouro, desde de que foi confirmado para novo cargo com mais do dobro da remuneração, o seu sacrifício, não se cansa de apregoar que teremos que fazer o nosso sacrifício, mas não é suficiente e que portanto a seguir virão outros sob a forma de redução de salários ou novos aumentos de impostos.

O terceiro arauto do sacrifício, o nosso PR é mais comedidozinho, pois coitado não tem poder executivo, mas lá vai anunciando que temos mesmo que nos sacrificar, não temos outra opção, mas que não nos esqueçamos de olhar para os mais carenciados, que pelo andar da carruagem qualquer dia somo nós todos e nesse dia ou mesmo já hoje tenho a sensação que estes apelos de tão constantes já caem mais em saco roto que outra coisa.

No meio disto salva-se o nosso primeiro, pessoa de um optimismo incansável e que nos viu como os primeiros a sair da crise, com crescimentos assinaláveis e promissores, e com poder económico para continuar com as grandes obras, antes fosse, mas de tão bombardeado já não consigo acreditar em nenhum, resta-nos então a primeira hipótese avançada, a do referendo.

A ser assim sobra aquela sempre difícil questão de qual a pergunta a formular aos cidadãos, podia ser “Está disposto a sacrificar parte do seu rendimento para ajudar o país a sair do buraco em que o meteram os que agora clamam pelo nosso sacrifício, sabendo que esses mesmos arautos foram responsáveis pelo governo da nau nos últimos vinte e cinco anos, desde os tempos do dinheiro a rodos da CEE, passando pelo pântano e pela tanga, até ao actual pantanal em que nos encontramos ?”, SIM ou NÃO ?

Anónimo disse...

“Nova petição”

Os deputados debatem o estado da nação a 15 de Julho e na semana seguinte vão de férias, nada mais errado tendo em conta o actual contexto de crise, em que o mundo muda todas as semanas e consequentemente o país também, daí que fosse mais avisado antecipar este debate, por muitas e variadas razões, senão vejamos.

De meados de Junho a meados de Julho decorre o campeonato do mundo de futebol e o país quase irá encerrar para assistir, por isso por muito que o mundo mude nesse período por cá não se irá sentir muito a mudança, assim as principais mudanças irão ter lugar daqui até lá, logo faria mais sentido debater o estado da nação por estes dias.

Com o próprio campeonato do mundo a decorrer para além da paralisação do país certamente que os senhores deputados irão optar por faltar às sessões para assistir aos desafios o que criará uma grande instabilidade nas sessões que se realizam a partir de meados de Junho, o que também joga a favor dessa antecipação.

Muito mais importante que as anteriores é que com a rapidez da mudança e com a direcção que vemos as coisas levar o melhor é mesmo antecipar o debate, senão arriscamo-nos a que qualquer dia já não consigamos reconhecer o estado em que estamos, correndo o risco de a nação ser apenas uma fraca figura dela própria.

E se tudo isto não bastar então devemos seguir o exemplo do nosso irmão Brasil, onde existe já um conjunto de deputados a tentar aprovar a antecipação das férias para Junho para poderem assistir à copa do mundo, com a vantagem dizem eles, de se poupar muito nos custos de funcionamento, pois com a assembleia fechada não existe funcionamento, são capazes de ter razão.

È por tudo isto que em vez dessa petição ridícula que anda para aí a circular para reduzir o número de deputados, devemos fazer outra para antecipar o debate do estado da nação pois é agora que este se justifica e antecipar também as férias dos deputados para antes do campeonato do mundo pois irá evitar muita perturbação na assembleia e tem por último a vantagem de se poupar uns cobres por este período extra de não funcionamento.

Anónimo disse...

“Pinho”

Fabrica e vende móveis de pinho, de carvalho, de bétula, de faia, abre hoje a sua terceira loja no nosso país e tem já planeado avançar com mais duas no médio prazo, é pertença do quarto homem mais rico do mundo que resolveu e muito bem investir por estas paragens, terá sido pelos nossos lindos olhos.

Terá sido pelos nossos lindos olhos e não só, pois não é de olhos fechados que se chega a quarto mais, é seguramente com muito trabalho, estratégia, planeamento e integração de toda a cadeia, desde a produção ao consumidor final, mas não só, é preciso saber aproveitar as oportunidades do nosso mundo globalizado.

E no aproveitar é que está o ganho, para já aproveitou desde logo uma página inteira de reportagem num dos semanários de maior tiragem nacional, onde ficamos a saber que terá aproveitado da melhor forma a debilidade do nosso mercado de trabalho, pois conseguiu ter cinquenta e picos candidatos para cada lugar.

Com esta taxa de procura poderia pensar-se que as remunerações seriam atractivas, mas não, fica a saber-se pela mesma reportagem que são de seiscentos euro líquidos já com todos os subsídios e que para meios horários quase chegam aos trezentos, nas mesmas circunstâncias, é saber aproveitar bem estes tempos de crise.

Consegue ainda que um quarto destes trabalhadores, ia dizer empregados mas não, só assinam por quatro meses e depois logo se vê, possuam habilitações superiores, o que diz bem do que é saber aproveitar o momento, para além de ter sabido aproveitar da melhor forma a posição geográfica escolhida.

Não escolheu a China porque a intenção é produzir e vender na Europa, e o custos logísticos desde tão longe e para mercadorias de alguma dimensão não seriam tão atractivos, mas também não escolheu o centro do continente onde os custos laborais já pesam, escolheu-nos a nós não pelos lindos olhos, mas pelas nossas vistas curtas.

Não há que criticar quem assim decidiu em função das variáveis do mercado, são tudo opções que eu também tomaria nas mesmas circunstâncias, o que temos que ponderar é se queremos prosseguir nesta via, de aos seiscentos euros ainda ter que retirar trinta por cento, como já por aí apregoam, façam as contas e depois digam-me se não dão toda a razão ao Pinho quando afirmou, invistam no nosso país que os custos salariais são baixos.

Anónimo disse...

A NOVA POBREZA - Manuel António Pina

Os novos pobres

A crise quando chega toca a todos, e eu já não sei se hei-de ter pena dos milhares de homens e mulheres que, por esse país, fora, todos os dias ficam sem emprego se dos infelizes gestores do BCP que, por iniciativa de alguns accionistas, poderão vir a ter o seu ganha-pão drasticamente reduzido em 50%, ou mesmo a ver extintos os por assim dizer postos de trabalho.
A triste notícia vem no DN: o presidente do Conselho Geral e de Supervisão daquele banco arrisca-se a deixar de cobrar 90 000 euros por cada reunião a que se digna estar presente e passar a receber só 45 000; por sua vez, o vice-presidente, que ganha 290 000 anuais, poderá ter que contentar-se com 145 000; e os nove vogais verão o seu salário de miséria (150 000 euros, fora as alcavalas) reduzido a 25% do do presidente. Ou seja, o BCP prepara-se para gerar 11 novos pobres, atirando ainda para o desemprego com um número indeterminado de membros do seu distinto Conselho Superior. Aconselha a prudência que o Banco Alimentar contra a Fome comece a reforçar os "stocks" de caviar e Veuve Clicquot, pois esta gente está habituada a comer bem.

Anónimo disse...

“Em busca do ouro perdido”

São elevadas as expectativas, levantou esta manhã de Figo Maduro o Falcon 50, transportava a bordo uma comitiva de alguns, poucos empresários que os tempos não estão para mais, liderada por Indiana Zé, destino terras de Vera Cruz, com incursões previstas e não previstas por outros territórios, nada o pode desviar da sua missão.

A aventura prometia, logo à chegada o nosso Indiana num golpe de mestre consegue iludir toda a comitiva e respectiva segurança, lançando-se como é seu hábito pelos mais recônditos sítios, sem mapa, mas com um objectivo bem preciso em mente, conseguir trazer para o seu povo a arca sagrada que o tornará imbatível na resolução dos problemas da economia.

Logo na primeira esquina vê-se confrontado com três especuladores e dois membros poderosíssimos de outras tantas conceituadas agencias de rating, mas sem se deixar desfeitear saca do seu chicote e logo os especuladores metem o rabinho entre as pernas, quanto aos raters a receita aplicada teve que ser mais forte, um florete quinhentista desembainhado, três estocadas e assunto arrumado, bravo.

A arca, cheiro dela nem vê-lo, não desiste à primeira, nem à segunda, nem à terceira e já perto do palácio presidencial, local onde supostamente estaria a próxima pista vê-se acometido por um conjunto de bandalhos a soldo da oposição, coisa pouca, para quem manuseia com mestria um par de katanas do período xing, minutos depois todos por terra e lá descobre atrás dum vaso ameríndio a tal pista, o mapa que faltava.

Num repente aproveita para deixar sobre a secretária presidencial uma proposta para fornecimento de sete mil magalhães de quarta geração, oito mil torres eólicas de alto rendimento, dois estádios de futebol para 2014 e ainda um estádio olímpico para 2016, tudo na esperança de poder assim relançar a economia e enxotar de vez a crise que nos assola.

Consulta rápida ao mapa que aponta 4.500 km direcção NO, cidade de Caracas aí vou eu, embarca novamente no aeroporto do Galeão com o destino traçado, à sua espera desta feita apenas gente amiga, não há armadilhas nem truques, pois entretanto a sua fama já alastrara a todo o continente.

É muito bem recebido pelo chefe local, que promete pagar o quanto antes a última entrega de magalhães e deu uma ajuda preciosa a decifrar o mapa, pois a arca mais não era que a representação simbólica do poço de petróleo cuja exploração conjunta havia sido assinada ia para dois anos ainda sem proveitos, mas desta vez ficou a promessa firme de que finalmente iríamos poder começar a usufruir do ouro negro perdido.

Anónimo disse...

“Metafísica”

Está a decorrer lá pelos Brasis o III Fórum Mundial da Aliança de Civilizações, mais uma daquelas iniciativas de carácter duvidoso que povoam a nossa actual existência e nos deixam às voltas tentando perceber quem somos, de onde vimos, para onde vamos, questões metafísicas às quais o homem não consegue fugir, por muito rápido que corra.

Numa definição de civilização que recolhi às pressas obtive que é o estágio da cultura social e da civilidade de um agrupamento humano caracterizado pelo progresso social, científico, político, económico e artístico. O vocábulo deriva do latim civita que designava cidade e civile (civil) o seu habitante.

Dá que pensar, civilidade, respeito pelas normas de convívio entre todos nós é cada vez mais letra morta, pois à velocidade com que passamos uns pelos outros sem nos darmos conta, leva a que o convívio seja apenas institucional, o necessário, muitas vezes o imposto e por isso na maior parte das vezes resulta no frete da civilidade.

Estágio da cultura social e seu progresso, já viu e viveu melhores dias na nossa civilização, mas actualmente em que tudo é economia, já se deram conta disso, o social não é rentável, logo não encaixa no sistema actual, o que é rentável é o antisocial, é colocar o ancestral no asilo, que por acaso já não se designa assim, mas “golden age residence”, para poder render em consonância.

Progresso científico é o da pílula da felicidade, que promete prazer sem fim, em embalagens de cinquenta unidades, já as outras pílulas as comparticipadas, querem-se cada vez mais genéricas, mais em unidose e com uma comparticipação cada vez menor pois o estado da economia assim o recomenda.

Progresso político é aquilo que se vê, é enorme, todos querem agarrá-lo, pois é a melhor forma de progredir na nossa civilização se não se for bilionário, ou especulador, já a arte está a dar imenso a julgar pelo número de Picassos e Renoirs roubados de museus e colecções famosas, nestes últimos tempos.

Quanto á economia ouvimos todos os dias as notícias do seu percurso errante ora para cima ora para baixo, é tal qual um interruptor, por isso meus amigos divirtam-se muito por aí em mais esse fórum, mas não se esqueçam de nós e publiquem no final o relatório das conclusões relevantes para a nossa civilização, enquanto não fico-me pela análise do Pessoa, “há metafísica bastante em não pensar em nada”.

Anónimo disse...

“Feriado Ibérico”

Acontecimento improvável, não o do feriado, mas o facto de o nosso pais possuir neste momento o melhor jogador e o melhor treinador do mundo, já pensaram bem num país desta dimensão, a probabilidades de tal acontecimento é talvez a mesma de que a mim me possa sair o euromilhões.

O melhor então é ir pondo as barbas de molho, pois se isto aconteceu ao nosso país deve querer dizer que o euromilhões vem a caminho, mas acontecimento igualmente improvável era o de estes dois craques planetários se juntarem num mesmo clube e logo aqui ao lado na capital Madrid, mas não é que aconteceu, já me cheira a euromilhões.

Euromilhões senão para mim, pelo menos para eles dois, mas se pensarmos bem a probabilidade de tudo isto se conjugar nos dois países que no passado dividiram entre eles o nosso mundo, ou pelo menos o mundo conhecido à época, bem menos provável seria, mas o que é facto é que aconteceu mesmo.

Tanta improbabilidade junta a acontecer só pode ser o prenúncio de que algo está mesmo a mudar neste nosso mundo e se todas estas mudanças aconteceram nesta última semana, isto só vem contrariar todos aqueles que recentemente afirmaram não poder o mundo mudar em três semanas, não era provável no passado, mas o passado foi lá atrás.

Pelo contrário é antes de mais uma prova de que o mundo está a mudar e muda cada vez mais rapidamente, pois de três passámos a uma semana e não é mais improvável que a mudança possa começar a surgir a cada dia, a cada hora, a cada minuto, é pois bom que nos habituemos a este ritmo de mudança se queremos atravessar a ponte para o futuro próximo, mais próximo que aquilo que alguma vez pensámos, há que pensar cada vez mais rápido.

Por isso já esta segunda-feira, dia da apresentação do novo treinador em Madrid, devia ser consagrada como o primeiro feriado ibérico, de muitos que se hão-de seguir, improvável dirão, não creio, e era bom que se começasse desde já a escrever o manual com a nova teoria das probabilidades, pois está visto que a velha teoria já não serve.

Anónimo disse...

“Cuidar da dentadura”

O auto-proclamado “O Melhor Partido”, fundado pelo comediante islandês Jon Gnarr, venceu com 34,7% dos votos as eleições autárquicas de Reykjavik, capital da ilha, ficando à frente do institucional Partido da Independência, conquistou o eleitorado com propostas como a construção de uma Disneylândia na ilha, a compra de um urso polar para o zoo de Reykjavik e a distribuição gratuita de toalhas, “Vamos prometer o dobro dos outros partidos e cumprir o mesmo: nada!”, declarou Gnarr durante a campanha.

Por cá bastava que o Ricardo Araújo Pereira formasse o partido da higiene oral e oferecesse uma pasta medicinal couto, aquela que assim ficou conhecida embora já não seja medicinal, seria o bastante para ganhar também as eleições, só que entretanto coisas muito mais interessantes se têm estado a passar, a ministra do trabalho acaba de afirmar “que necessitamos de consertação em vez de contestação”, merece a nossa atenção.

Merece a nossa e já fez eco desde os ministérios, passando pelo parlamento nacional e chegando até ao parlamento europeu, pois todos eles se estão já a consertar, os orçamentos ministeriais já foram incrementados entre 14 e 22 %, enquanto isso no nosso parlamento as despesas para viagens e de representação também já foram consertadas a contento de todos, por fim no parlamento europeu parece que cada um vai ter uma boa maquia extra e poderá duplicar o número de assistentes, avariados é que eles não podiam ficar, consertam-se logo a valer, é o expoente máximo da consertação.

Enquanto isso e lá por fora o nosso primeiríssimo conseguiu contratos milionários com nuestros hermanos da Venezuela, essa dinheirama toda a juntar àquela que irá conseguir juntar por cá, após nos ter convencido a todos a pagar mais 1% no IVA e entre 1% e 1,5 % no IRS, vão seguramente ser suficientes para conseguirmos fintar a crise e poder prosseguir com o nível de investimento público desde sempre prometido, pelo menos assim pensam os nossos responsáveis.

Pensam eles mas não pensamos nós, e se na Islândia imperou o sentido e humor, por cá deverá imperar um misto de humor e pragmatismo, daí que o partido da higiene oral deva mesmo avançar e oferecer-nos a prometida pasta medicinal, pois nesta altura será mesmo necessário cuidar muito bem da dentadura, pois eu tenho cá a ligeira impressão que isto tudo ainda irá terminar à dentada.

Anónimo disse...

“Travessia do deserto”

Certo dia um conhecido milionário decide fazer uma travessia pelo deserto, planeou tudo, comprou os melhores camelos, contratou os melhores guias, equiparam-se e lá partiram, só que não contavam com uma tempestade de areia fortíssima que a certa altura os deixou apeados e já em estado de alucinação, conta-se que o dito milionário terá a dada altura prometido o seu reino por um camelo, mas nada a fazer, existem ocasiões em que milhões ou tostões resolvem o mesmo.

Hoje em dia nós desconhecidos contribuintes estávamos a fazer uma imposta travessia do deserto, não estava planeada mas aconteceu, não tínhamos os melhores contabilistas, não nos equipámos previamente mas cá íamos andando, só que não contávamos com um potente tornado vindo dos mercados financeiros norte americanos e já em estado de quase subnutrição, veio a solução, juntar todos os nossos tostões, perfazendo milhões para conseguir devolver a sanidade ao orçamento do reino.

Como se vê as travessias do deserto, sendo estas voluntárias ou impostas, planeadas ou não, acarretam sempre situações imprevistas de risco elevado que podem comprometer de forma mais ou menos irreversível, todo um reino, um ou outro milionário, uns bons milhões, uns bons magotes de ilustres desconhecidos e seus tostões e não há muita coisa a fazer pois o ser humano é mesmo assim, só se lembra de Santa Bárbara quando troveja e no meio da tempestade a pobre não tem mãos a medir, tantas as solicitações.

Certo dia um ilustre visionário decide ir passear ao deserto, comprou a passagem aérea, instalou-se num hotel de luxo à beira do deserto, rodeado dos mais iluminados homens de negócios e com os camelos que tinham ficado no reino em mente, precavendo o tempo que todos antecipavam longo até à chegada da bonança, decide aplicar uns milhões na aquisição de camelos de raça mais apurada e treinados com vista a dotar os camelos do reino de melhores meios com vista à próxima travessia do deserto.

Anónimo disse...

“Vegeto-retroactivos”

Não há que ter muitas preocupações, nós todos somos um pouco assim e agora com o evoluir da nossa sociedade, para uma sociedade coisistica e estética ainda menos temos que nos preocupar com este tipo de questões, pois logo à nascença hipotecamos todo o nosso futuro em função da esperança média de vida, com a vantagem de à medida que a esperança média de vida é actualizada podemos acrescentar um pouco à hipoteca.

Senão vejamos, nascemos e os nossos pais fazem-nos uma conta poupança até à maioridade, para a qual o estado também contribui, o exercício é simples colocamo-nos vinte e um anos à frente e planeamos desse ponto para trás uma expectativa ao chegar lá, já com a compra da habitação é a mesma coisa colocamo-nos sessenta anos à frente e retroactivamente a partir desse ponto gastamos tudo numa bela mansão, mais uns trocos para a piscina e o carro.

Com os países e os governos é a mesma coisa, com a vantagem de não sabermos bem a esperança média de vida de um país e assim podermos antecipá-la enorme, colocamo-nos nesse ponto bem lá à frente e planeamos o gasto que retroactivamente podemos realizar, já se aperceberam bem a quantidade de massa que isso coloca à nossa disposição, se calhar nem todos, mas alguns seguramente já.

Daí que no limite seja fácil à humanidade e a partir de um ponto no infinito planear retroactivamente gastos também infinitos, a saldar em suaves prestações até esse instante, lá bem longe, logo e para quem já se apercebeu desta possibilidade real, seja possível planear e realizar por exemplo o TGV Caia, Poceirão, Faro, Marrakech, Cidade do Cabo e quem sabe num dos próximos campeonatos do mundo a realizar em Luanda a selecção já se desloque de comboio.

Mas como nem tudo são rosas existe um pequenino reverso da medalha que é o facto de comprometermos desta forma os rendimentos da humanidade por um período alargado, o que na sociedade das coisas dir-se-ia até nem é um grande problema, pois estamos a investir precisamente em coisas, restamos nós que com este evoluir nos tornamos uma espécie ornamental tão necessária nesta sociedade também da estética, seremos portanto os futuros vegetais e poderá pensar-se que estamos a actuar vegeto-retroactivamente.

Anónimo disse...

“Inquietude”

Já ouvi chamar aos tempos actuais, tempos de irracionalidade e tempos de incerteza, mas ao ler escritos de outras eras sempre vi neles doses de incerteza e irracionalidade em menor ou maior grau, mas sempre presentes, na leitura dos acontecimentos mais recentes vejo sobretudo que estamos perante tempos de inquietude, em que nos deve assaltar nova necessidade de descoberta.

Que melhor exemplo querem de irracionalidade do que construir naus e partir mar fora à descoberta de novos mundos, quando podíamos ter ficado aqui bem quietinhos no nosso canto à espera de um subsídio e que maior grau de incerteza podíamos tentar alcançar ao lançamo-nos numa epopeia desta dimensão, só mesmo tentar enriquecer no second life, pois não consta que alguém já o tenha conseguido.

Eram já tempos de alguma inquietude os que nos impulsionaram em tamanha cruzada, pois só assim se justifica termos partido tentando espalhar a nossa verdade e escutando simultaneamente outras verdades, e se a inquietude relativa desses tempos nada era face à inquietude dos tempos actuais, o que nos faz ficar agora parados, absortos a escutar todas as mentiras daqui e de além mar.

Só pode ser explicado à custa da nossa mais pura irracionalidade, pois antes não eram sequer as verdades dos outros que nos detinham em querer também espalhar a nossa verdade, quando agora as nossas próprias mentiras nos conseguem paralisar, vindo as mentiras dos outros apenas como um complemento das nossas.

Mas se quando podíamos ter ficado quietinhos à espera do subsídio não o fizemos então agora que o tempo do subsídio está a chegar ao fim, não adianta ficar à espera dele, seria irracional e se a incerteza de enriquecer no second life é superior àquela que enfrentamos fazendo-nos ao mar será pois chegada a hora de uma nova epopeia, sem subsídio e sem enriquecimento fácil.

É tempo pois de encetar uma nova caminhada, carregados de toda a nossa irracionalidade, de toda a incerteza que nos possa assaltar, mas movidos pela inquietude que os tempos presentes nos induzem, ignorando todas as mentiras que teimam em querer-nos vender e partindo à descoberta de todas as verdades ainda por descobrir.