12 de setembro de 2008

para que serve o poder?


Cavaco Silva anda muito activo.
No final de Julho falou aos portugueses sobre os seus poderes.
Hoje deu uma entrevista ao Público com destaque para os seus poderes. Logo a seguir voltou a falar aos media para esclarecer o seu ponto de vista sobre os seus poderes.
Para quem não lia jornais, estranhamos tamanha discussão de assuntos institucionais na comunicação social.
Daquilo que nos foi possível entender, Cavaco está mesmo preocupado com o poder do Presidente da República. Ou seja, com o seu próprio poder.

A preocupação parece ter a ver com a eventual dissolução da Assembleia Regional dos Açores.
Ou seja, para dissolver a Assembleia Regional, o Presidente da República também seria obrigado a ouvir os representantes eleitos pelo povo Açoriano - o Presidente do Governo Regional, a Assembleia Regional e os grupos e representações parlamentares regionais.
Note-se que a decisão do Presidente nunca deixaria de ser tomada em total liberdade e de acordo com a sua única e exclusiva vontade.
Mas, para Cavaco, ouvir os representantes da população parece ser desrespeitoso.

Como é possível conciliar a rejeição ao diálogo com um Estado que se pretende Democrático?
Haverá alguma relação com o facto de estarmos perante uma pessoa que raramente tem dúvidas e nunca se engana?

Certo é que Cavaco está preocupado com a sua perda de poder.
Nós, os Portugueses, temos outras preocupações.
Mas, a julgar pelas comunicações públicas do Presidente, as preocupações dos portugueses podem esperar.
O importante, nesta altura, é o seu poder. E, sobre este assunto, a sua consciência impede-o de ficar calado. O que já não acontece com muitos outros aspectos da nossa sociedade.
Cavaco mostra-se decidido, falando até na possibilidade de utilizar o veto ou a fiscalização sucessiva do diploma.
Forças de bloqueio?
Todos (excepto os mais novos) nos lembramos, no tempo que governou o País, das suas lamentações contra as denominadas "forças de bloqueio".
Todos nos lembramos dos seus apelos para que o deixassem trabalhar.
E, naquela altura, perante tamanhas adversidades (leia-se forças de bloqueio), foi-lhe possível criar um oásis em Portugal!?
Pena que o oásis não passasse duma miragem - a realidade actual confirma-o.
As desigualdades económicas e sociais são escandalosas. O desemprego é elevado. Os efeitos dos postos de trabalho criados são anulados pelos postos de trabalho destruídos.
O nosso sistema de educação, passados tantos anos, continua a mostrar tantas fraquezas e tantas debilidades. As consequências são visíveis nas qualificações dos nossos recursos humanos e nos resultados gerados - não há meio de nos tornarmos competitivos.
O sector da Justiça continua a não funcionar de forma desejável, com reflexos na criminalidade actualmente instalada (não esquecer os crimes de colarinho branco!).
Na saúde sucedem-se as evidências de erros sucessivos e escandalosos. Realce-se o facto de já ninguém conseguir esconder a falta de médicos - não por falta de candidatos para os cursos de medicina...
Pena que os problemas que dificultam cada vez mais o dia a dia dos Portugueses não seja a primeira preocupação de Cavaco nas suas intervenções públicas.

Mas porquê?
Porque será que as minúsculas restrições ao exercício dos poderes por parte do Presidente da República merecem tanta importância?
Porque se sentirá incomodado em escutar - sim, apenas escutar - as opiniões dos eleitos pelas populações?
Para que quererá Cavaco Silva o poder?
Sim, afinal, o poder serve para quê?


Demonstração de poder no bloqueio da Ponte 25 de Abril, há uns anos atrás



Outro aspecto do uso do poder no bloqueio da Ponte 25 de Abril


Será caso para dizer, porque não trabalhas?

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