30 de novembro de 2008

a fome e a gula

Decorre este fim de semana mais uma recolha de bens pelo Banco Alimentar Contra a Fome.
Há cada vez mais Portugueses a recorrerem aos apoios prestados por esta instituição.
Há cada vez mais pessoas com falta de dinheiro para ...comer!
Há Portugueses solidários, daqueles que vão aos supermercados e que contribuem.
Mas não são todos...
Há alguns que não dão porque não têm. E ninguém pode dar aquilo que não tem.
Outros não dão, porque não vão ao supermercado e porque...
Vejamos alguns aspectos relacionados com esta questão.

A União Europeia reprovou, esta semana, um reforço orçamental de 200 milhões de euros do programa comunitário de ajuda alimentar. Ou seja, a CE rejeitou a hipótese de se passar de 300 para 500 milhões de euros o apoio alimentar! Elucidativo.

Em Portugal, seguindo a estratégia do mundo ocidental, o governo decidiu ajudar o Banco Português de Negócios, com recurso ao dinheiro dos nossos impostos.
Nacionalizou-o.
Segundo a imprensa, o buraco no BPN pode ultrapassar os mil milhões de Euros. Comparando estes 1.000 milhões (para apenas um banco Português) com os 300 milhões que a Comunidade Europeia disponibiliza para apoiar os que não têm que comer em 27 países...
Segundo o 24 Horas, José Oliveira e Costa (ex-presidente do BPN) apoiou a campanha eleitoral de Cavaco Silva com uma doação de 15 mil euros. Que terá doado tão ilustre personagem ao Banco Alimentar Contra a Fome? Ou será que a fome dele é outra?

Ainda em Portugal e segundo o Expresso, o governo optou por socorrer o Banco Privado Português devido ao efeitos que a falência do banco teria na imagem de Portugal nos mercados externos, bem como a crise de confiança que acarretaria internamente.
Este banco não é um banco comercial.
Tem como principal objectivo a gestão de fortunas.
Actuava essencialmente no mercado financeiro internacional.
A grande maioria do Portugueses não reunia as condições mínimas para poder ser aceite como cliente nesta instituição...
Ouve-se agora dizer que o BPP poderá usufruir duma garantia do Estado que rondará os 600 milhões de euros.
Essa garantia é suportada, uma vez mais, com o dinheiro dos nossos impostos.
Assim se corrigem os erros (ou a ganância?) dos responsáveis pela administração do banco. Responsáveis esses que receberam do BPP, em 2007, mais de um milhão de euros em remunerações e acções (falamos de apenas 4 administradores)...
Sabe-se também que o ex-presidente do BPP, João Rendeiro, mantém o seu vínculo à função pública... sempre pode vir a dar jeito, não pela fome mas, quem sabe, pela gula...

Há poucos meses, o governo também decidiu apoiar um outro banco, o BCP.

Cedeu mesmo os seus melhores administradores no activo - da CGD - para que pudessem ajudar tão ilustre instituição. E nem as questões de concorrência impediram tal decisão. É que os administradores da CGD à data estavam, certamente, na posse de muitas e importantes informações confidenciais, relativas à instituição que geriam. Informações essas que podem agora ser utilizadas em benefício do BCP e em prejuízo da CGD...
Ou será que esses administradores eram do tipo Dias Loureiro que não sabiam nada do que se passava no banco? Mas, se assim fosse, para que é que serviria a sua ajuda no BCP, se eles não sabiam nada de nada? A propósito, para que serviria Dias Loureiro na administração do BPN ?

Como se pode observar, apoios há.
Alguns deles são direccionados para quem passa fome.
Outros para quem é guloso.

Fica o agradecimento à Comunidade Europeia e ao seu Presidente.
"Saúdo esta iniciativa da Comissão [programa de estímulo económico] e felicito o seu presidente [Durão Barroso] por esta iniciativa".
José Sócrates, Lusa, 26-11-2008


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