26 de março de 2009

falta regulamentar o sistema financeiro?

A crise internacional está aí, de pedra e cal.
Há muita gente ansiosa a prever o seu final.
Que é prontamente desmentida pelos factos noticiados - perdas de confiança, encerramento de empresas, desemprego, desigualdades sociais, etc...
Há também muita genta a apresentar a solução para que, crises como esta, não se repitam.
A receita mais divulgada passa pela regulamentação do sistema financeiro.
Porque, segundo dizem, se houvesse regulamentação do sistema, esta crise teria sido evitada pelos reguladores do mercado...
Acontece que, contrariamente ao que fazem crer, havia regulamentação.
Os buracos existentes na regulamentação dos mercados eram intensionais e cumpriam objectivos concretos. É uma forma de regulamentar, o que quer que seja.

Mas será que a prevenção deste tipo de situações se resume a regulamentação?

Partindo deste pensamento, decidimos observar o funcionamento de outros mercados regulados.
Pensámos num dos maiores mercados mundiais - o mercado da droga.
Acontece que, relativamente à droga, não há falta de regulamentação.
Há as drogas legais, que podem ser transaccionadas desde que se paguem os respectivos impostos.
Há drogas ilegais que não podem ser transaccionadas sob penas legais claramente definidas.
Há sistemas mundiais, muito sofisticados, de combate ao tráfico de droga. Funcionam com recurso a elevada tecnologia, recursos humanos especializados, organizações em rede, etc, etc.
Consequentemente, desenvolvem-se investigações policiais complexas, prendem-se pessoas, confiscam-se bens, fazem-se julgamentos, executam-se penas, actualizam-se as leis...
...e quais são os resultados?
Muitos anos depois desta estratégia estar em funcionamento, o tráfico de droga não parou de crescer. Contínua e sustentadamente.
E o mercado da droga está exaustivamente regulamentado.
Isto acontecerá porque os lucros deste negócio são tão vastos que chegam para alimentar imensas bocas gananciosas?

Voltamos à questão prévia: será que a prevenção deste tipo de crises passa pela regulamentação do mercado?
Claro que não.
Acontece que aqueles que detêm o poder económico - e controlam o poder político - não estão dispostos a ceder o que quer que seja. E querem desenvolver acções de fachada, controladas por si, de forma a assegurar o crescimento do seu poder.
O dinheiro (ou a riqueza) que havia antes da crise não se evaporou. Quanto muito, algum dele mudou de mãos. Nesse processo há quem tenha aumentado significativamente o seu quinhão. Para seu proveito pessoal. Em detrimento dos prejuízos causados à nossa sociedade. Mas para os gananciosos, isso pouco importa.

A actual crise económica teve como uma das principais causas a ganância (o que é opinião unânime dos analistas, políticos, economistas, etc...).
O problema pode tornar-se grave se os gananciosos estiverem presentes nos mercados financeiros e nos órgão de poder político.
Nesse cenário, ambos querem ganhar. Ambos são gananciosos. Então, para satisfação dos seus desejos, trabalham em conjunto, de forma concertada e organizada. Acordam na repartição dos lucros gerados. Reinvestem esses lucros seguindo o mesmo sistema. Desenvolvem novas parcerias, alargando a sua influência. Anulam todos aqueles que não pactuam com as suas acções. E dão muito show, muito circo, muito entretenimento.

Nesse cenário, de que nos servirá uma nova regulamentação, se aqueles que a fazem trabalham em colaboração com aqueles que dela beneficiam directamente ?

Já lá vão uns séculos que César adoptou o princípio do pão e circo!
O Império Romano cresceu sob esse lema.
Séculos passados, a realidade mantém-se.
Vai-se dando umas côdeas de pão aos desgraçados, para que eles se mantenham pacíficos e não causem problemas (e sem que saiam da sua desgraça).
E, para entreter a populaça, vai de circo com força!

Hoje, toda a gente fala de mudança.
Mas as mudanças visíveis assentam essencialmente no desenvolvimento tecnológico e nas suas inevitáveis consequências.
As mentalidades, o pensamento, a organização da nossa sociedade pouco, ou nada, tem mudado.
Mas há que mudar!
Não as aparências mas a realidade!

Como é que Você se sente quando alguém, invisível ou quase, decide por si, sem o seu consentimento?
Como é que você se sente quando vê o dinheiro dos seus impostos a ser esbanjado de forma ilógica e incoerente?
Como é que você se sente quando vê que há uma justiça para os poderosos e outra para si?
Você não sente vontade de mudar de caminho?
Você não acha que já chega de circo?

Ou também ganha com este negócio?

5 comentários:

Anónimo disse...

O achómetro é um grande espaço de falsa democracia que se deixa criar em torno de um projecto, permissivo a boquinhas bem intencionadas, bocas mandonas ou bocarras ignorantes. É um forum de generalidades, uma escala de aferição cujos valores se anulam; é um triunfo do seu amadorismo.

Anónimo disse...

Quem vai regulamentar?

Os mesmos que levaram a cabo o sistema económico instalado e que está a dar o resultado que se vê, que se sente na carne, pondo quase 2/3 a população do planeta no-DESEMPREGO- ou -EMPREGO PRECÁRIO-, para os 1/3 que restam, fiquem com toda a riqueza!

E depois ainda têm a lata de dizer que é um processo natural!!!!!

Acham que é aceitável e natural que um jovem não consiga um emprego estável, a não ser com CUNHAS?

Que sociedade estamos a formar?
De VIRA CASACAS?

Os culpados de toda esta situação são os governos que se submeteram e aderiram, para proveito de alguns, aos processos gananciosos das grandes empresas!

Para essas empresas e respectivos governos(aqui em Portugal também...)o desemprego não é importante o importante é continuarem a comandar o barco...

Próximo das ELEIÇÔES recomeçam a prometer tudo que prometeram antes mas, não se iludam, vão continuar na mesma!

É A LEI DOS LOBOS E É CONTRA ESSA LEI QUE TEMOS DE LUTAR, também aqui em ALCÁCER DO SAL!

Alcácer do Sol disse...

O primeiro comentador acha que o direito à opinião e a liberdade de expressão pertencem à falsa democracia.
Entendo. Para ele o sistema funcionaria muito melhor limitando os direitos e as liberdades dos cidadãos.
E, pelo que vejo, este comentador anónimo é um profissional (eu, nestas coisas de blogs, sou realmente um amador).
Um profissional que está incomodado com o livre pensamento das pessoas.
Porque será?
Receará a perda de algo?
Temerá a mudança por escassez de alternativas?
Vai, certamente, continuar a falar.
O que não impedirá a passagem da caravana.
Seja feliz! E fundamente melhor as suas posições.

Anónimo disse...

Relativamente ao primeiro comentário e consequente resposta do Alcácer do Sol, devo referir que em minha opinião considero positiva a acção do segundo, porque acaba por ser o único veículo de informação e análise a que os cidadãos de alcácer têm acesso, visto infelizmente não existir imprensa escrita(jornal) livre. Os incómodos que o Alcácer do Sol cria são na sua maioria reais e concretos e ainda bem que tem a coragem de o fazer (Dando a Cára) não dissimula nem mistifica o seu espaço de opinião! por isso, considero importante que contra ventos e marés continue a proporcionar um espaço de discussão e de pensamento, porque como dizia o sábio " ninguém é dono da verdade, a verdade é que encontra o dono". A seu tempo (outubro) logo se verá quem é o dono da verdade! Bem creio que vão existir grandes desilusões mas assim é a vida cheia de grandes surpresas por isso é que é linda e óptima de viver. Abraços.

Anónimo disse...

O tacho é grande. Dá de comer a muito vassalo...