19 de junho de 2008

mediocridade

Um inspector do ministério da educação visitou hoje a Escola Secundária de Alcácer do Sal.
Decorriam os exames nacionais.
Nada de extraordinário. O ambiente era amistoso. O trabalho decorria com normalidade.
Até que o inspector decidiu extrapolar as suas funções.
E aconselhou os professores, que na altura o rodeavam, a não criticarem a ministra da educação, D. Lurdes Rodrigues. E justificou a sua afirmação: é ela que vos paga o salário!

Isto é que é inspeccionar!

Primeiro: não é a D.Lurdes Rodrigues que paga o salário aos professores. São os contribuintes. Que também pagam o salário à ministra. Pelo que, de acordo com este princípio, a ministra deveria estar impedida de criticar os professores, porque todos eles são contribuintes... Ou seja, este argumento é asqueroso.

Segundo: o salário é o troco por um serviço prestado. Esse serviço, tanto quanto se sabe até agora, não impõe a submissão a quem o presta. Assim como não restringe o pensamento nem a liberdade de expressão. Já assim foi, há mais de 30 anos atrás. Parece que há quem tenha ficado com saudades...

Terceiro: um sistema fechado, em que o diálogo não existe (a crítica faz parte integrante dos processos de diálogo) regride e definha. Não se consegue entender como é que na Escola, onde se formam os nossos jovens, alguém defenda o pensamento único, ainda por cima através da chantagem.

Este facto faz-nos lembrar um texto de Daniel Sampaio em que afirma: "Portugal anda cheio de chefes narcísicos. Querem dominar tudo e todos e não mostram qualquer empatia pelos problemas dos que os rodeiam... Esses chefes procuram sempre o elogio... rodeiam-se de gente submissa que, para os servir, decretou para si mesma o silêncio e o elogio fácil ao chefe..." (1)

E também nos lembramos das palavras de José Saramago: "O grande problema nacional é a mediocridade e a resignação à mediocridade". (2)

É caso para dizer
"Senhor, falta cumprir-se Portugal!" (3)

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(1) - artigo publicado no Público de 23/12/2007
(2) - entrevista publicada no Público de 15/6/2008
(3) - in Mensagem de Fernando Pessoa

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