5 de julho de 2008

estórias de Portugal de hoje


O Tribunal de Contas divulgou ontem um relatório sobre a Águas de Portugal.

O relatório arrasa esta empresa pública.
Pelos vistos gastou-se uma fortuna a investir, no Brasil e em Cabo Verde, sem qualquer retorno.
Resultado: paciência...
Gastou-se outra fortuna com prémios e carros para aos funcionários.
Numa empresa que está em má situação.
Num país que está na penúria (falamos duma empresa pública).
Onde cortam aos funcionários públicos as actualizações salariais relativas à inflação anual.
Enquanto certos boys são premiados pelo desempenho numa empresa com resultados negativos (ou estará o Tribunal de Contas enganado?)

Onde está a lógica?
Quem ganha com estes grandes negócios que se fazem neste pequeno e pobre país?
Vejamos.

Ninguém vive sem água. Logo, há consumidores garantidos.
Ninguém vive sem gerar detritos. Que têm que ser tratados. Como cada um terá de pagar o tratamento dos detritos que gera, também há consumidores garantidos.

Nesta lógica é atribuído à Águas de Portugal o monopólio da captação e distribuição de água no país. Não há viabilidade para outras empresas competirem, uma vez que a rede de distribuição é única.

As autarquias que resistem a esta intenção enfrentam dificuldades em aceder aos fundos comunitários para aplicação na rede de captação e distribuição de água, assim como no tratamento de águas residuais ou no tratamento de resíduos sólidos urbanos.

A Águas de Portugal é a solução suave, gradual e docemente "imposta".
Que entra no negócio, investe em infra-estruturas e aumenta os preços no consumidor.
Até que não pode aumentar mais os preços sob pena de contestação social.
E continua a investir.
Mesmo sem haver retorno do investimento em tempo útil.
O que não a impede de avançar.
Recorre ao crédito, que lhe é concedido.
Porquê?
Porque tem a concessão em exclusividade por um período de 30 anos.
Porque, quando não pode subir mais os preços negoceia o alargamento do prazo de exclusividade - quererão chegar aos 50 ou aos 100 anos?
Porque quer integrar outros negócios que se afiguram como extremamente lucrativos num futuro próximo. Falamos dos resíduos sólidos e líquidos. O que funciona como argumento para solucionar a actual crise da empresa. Permitindo um crescimento artificial.
Tudo isto com a bênção dos que querem o melhor para o nosso país.

Tal como tem sido feito no passado, com outras empresas públicas, prevemos a privatização da Águas de Portugal dentro de alguns anos.
Para já é cedo. Há que alargar o negócio a todo o território português. E mais uns quantos detalhes.
Não falta muito...
Estamos perante um verdadeiro monopólio.
Estamos perante um dos grandes negócios do século XXI.
Negócio esse vedado e inacessível ao tão apregoado mercado.
Desta vez dá mais jeito assim... o mercado fica para a próxima.
É preciso é que se ganhe com isto. Mesmo que sejam muito poucos...

Os Portugueses podem continuar a pagar.

Porque ninguém deixará de comprar água.
Sob a pena de morte!

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